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BARALHO HUDSON (THEORY 11)

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THEORY 11 tem se firmado como editora de baralhos de luxo de altíssima qualidade. Desde seus primeiros produtos, suas edições são marcadas por qualidade de design e fabricação. Seu recentemente lançado Hudson Playing Cards enfatiza esta característica. Vejamos os detalhes.

O BARALHO

Estojo com design clássico e acabamento primoroso. Com predominância da cor verde com detalhes dourados, procura emprestar ao maço uma aparência de pátina, como encontrado em peças antigas, que mesmo bem conservadas mostram certa antiguidade. É fabricado com cartão de boa qualidade, com a imagem de uma fábrica antiga na face que contém a marca do baralho, e uma reprodução do desenho do dorso na outra face. Acabamento com desenho repetido com o "H" na parte interior do estojo mostra o cuidado na sua elaboração. Um selo com decoração no padrão do exemplar dá o toque elegante de fechamento do estojo.

Figuras e cartas numerais seguem o padrão usual do fabricante do baralho, United States Playing Card Co (USPC). Embora não indicado explicitamente no estojo e mesmo no site do editor, não há dúvida pela qualidade de produção que se trata de fabricação desta importante empresa americana. As figuras apresentam detalhes em dourado (seguindo o padrão usado em vários produtos editados por Theory 11), substituindo o amarelo, normalmente encontrados nestas figuras.

Curingas (dois idênticos) procuram reproduzir o estilo encontrado em cartas similares fabricadas nos Estado Unidos no século 16/19. Duas cartas de publicidade de Theory 11 completam o conjunto de cartas extras do maço.

Dorso com desenho complexo, estreitas bordas brancas e (pelo menos até o momento) apresentado apenas na cor verde pálida. Para mágicos que eventualmente gostam de números onde o contraste de cores de dorso é usado, essas produções 'monocromáticas únicas' de dorso limitam a possibilidade de utilização plena do baralho. O desenho do dorso mostra detalhes que poderiam ser caracterizados como mesopotâmios ou assírios, embora o editor caracterize o desenho como timeless, ou seja, sem nenhuma vinculação a uma época especifica. O 'ar' assírio é caracterizado, principalmente, pelas quatro figuras que ornam os cantos das cartas, mostrando Grifos ou animais fantásticos semelhantes. Na parte central nota-se o cruzamento de dois compassos, em uma imagem que lembra o símbolo maçônico mais comum (esquadro e compasso). Estilos semelhantes foram usados em alguns ases de espadas fabricados por Eagle Card Co, de Middleton, Estados Unidos, em torno de 1870.

cartão com o qual as cartas é produzido é de primeira qualidade, bem como o acabamento superficial, fazendo jus a qualificação do maço como de qualidade premium. As cartas seguem o corte tradicional, importante para quem pratica embaralhamentos faro, com uma mão ou sobre a mesa com os dorsos para baixo. A espessura média das cartas é de 0,296 mm, o que caracteriza cartão com qualidade de cassino, mais espessa que o padrão usado pela marca Bicycle (em torno de 0,285 mm).

Encontramos no dorso, no estojo e nas cartas de publicidade a expressão "cerca trova". Seu significado literal é "busque e encontre", o que já aguça o interesse por algo misterioso que possa compor o baralho. A expressão tem uma origem curiosa. Foi usada por Giorgio Vasari, pintor italiano responsável por um painel na Sala del Gran Consiglio, do Palazzo Vecchio, de Florença, em 1565. Este painel teria encoberto outro, inacabado, de autoria de Leonardo da Vinci, contratado para ornamentar o Palazzo com uma alegoria à batalha de Anghiari, cidade da Toscana. Leonardo teria iniciado seu trabalho em 1505, mas apesar de vários esboços e desenhos preliminares, nunca terminou completamente sua obra. Por ocasião da reforma do Pallazo, em 1565, Vasari pintou outro mural, mas escreveu na parte superior de sua obra a expressão "cerca trova", aparentemente indicando que algo havia sob seu painel. De fato, em 2012, pesquisadores analisaram o que poderia haver sobre o painel de Vasari e encontraram pigmentos que eram exclusivamente usados por Leonardo da Vinci. Se Theory 11 usou a expressão também para indicar algo oculto no baralho fica para a curiosidade e pesquisa de todos.

A marca do baralho foi atribuída pelo editor referindo-se a uma suposta marca ou fabricante que teria produzido o baralho em 1856, instalado às margens do rio Hudson, que circunda a ilha de Manhatan, em Nova York. Tal fabricante teria desaparecido em 1871, com o desenvolvimento da New York Consolidated Card Company (NYCC), importante fabricante americano. O exemplar é apresentado como "uma lenda perdida na história..., reimaginada por Theory 11 em um desenho totalmente novo, manufaturado nos Estados Unidos...".

Procurei em todas as referências que tenho sobre a fabricação de baralhos nos Estado Unidos, e consultei vários estudiosos especialistas no tema, mas nenhuma publicação, nem ninguém ouviu falar em Hudson Playing Cards[i]. A única Hudson encontrada foi Hudson Industries PTY Ltd., de Melbourne, Austrália, que operou em meados do século 20, com nenhuma ligação de local ou época com a Hudson referida pelo editor. Embora não se descarte a possibilidade do editor ter encontrado, pelo menos, alguma referência a este fabricante, isto é improvável, tendo em conta nenhum especialista conhecer sequer especulações a respeito. Por outro lado, Theory 11 também não tem, provavelmente, nenhum modelo de baralho que teria sido fabricado por Hudson, já que o exemplar segue o padrão atualmente usado por USPC, e é referido como uma 'reimaginação' de um suposto baralho de meados do século 19.

De qualquer forma, embora tenhamos aqui uma imprecisão histórica, imaginada talvez com o objetivo de publicidade, isto não desmerece a qualidade de desenho, fabricação e cuidados na sua produção. Segue sendo um exemplar de excelente qualidade em todos seus aspectos.

Para aqueles que ficaram curiosos sobre a história da fabricação de baralhos nos Estados Unidos, sigo com algumas informações básicas.

UM POUCO SOBRE A FABRICAÇÃO DE BARALHOS NOS ESTADOS UNIDOS

Os vários países europeus que colonizaram partes do território hoje ocupado pelos Estados Unidos levaram para estas regiões os baralhos fabricados e utilizados em seus países de origem. Assim, Inglaterra levou cartas para Virginia e New England, França para a região da Lousiania, Espanha para Flórida e California, e assim por diante. As poucas referências encontradas mostram que os primeiros baralhos produzidos em território americano datam do final do século 18. Há registro de fabricantes desta época nas cidades de Boston, Philadelphia, Nova York e em New Jersey. As produções eram pequenas e artesanais. O primeiro fabricante digno de nota surge em c.1840, em Boston. Trata-se da família Ford (Jasaniah, seu irmão Joseph e o primo deles Nathaniel).

A partir da segunda metade do século 19 começam a surgir os principais conglomerados de fabricantes. Em c.1860 Abner Longley, um pregador itinerante, abre uma empresa de impressão em Cincinnati. Alguns de seus filhos seguem o negócio do pai e iniciam a produção de baralhos em 1861. A partir desta data membros da família passaram a produzir baralhos em vários locais e em diferentes marcas. Várias delas tornaram-se famosas, como Eagle Playing Card Co., Globe PC Co., Chicago PC Co. além de várias outras. Pelo menos 50 fabricantes diferentes estiveram sob controle dos Longley. Aos poucos, através de fusões e aquisições, estas fábricas foram sendo absorvidas e absorveram outras, iniciando uma tendência mundial de formação de grandes conglomerados, forma encontrada para atuar em um mercado bastante competitivo.

Em 1832 Lewis I. Cohen, de Nova York, negociante de artigos de papelaria, e primeiro fabricante de lápis nos Estados Unidos, passa a fabricar baralhos. Estimula­dos por ele, seu filho e sobrinhos também foram importantes fabricantes de baralhos, formando as empresas Lawrence & Cohen(seguidor direto de L. I. Cohen), Samuel Harte John Levy. Em 5 de dezembro de 1871, os três ramos da fábrica original de Cohen resolvem unir seus negócios de modo a equilibrar a concorrência entre eles próprios e Andrew Dougherty, este também importante fabricante da época e concorrente direto deles. Estabelece-seassima The New York Consolidated Card Co(NYCC).O suposto fabricante Hudson Playing Cards, aparentemente imaginado por Theory 11, poderia ter sido uma das empresas formadoras de NYCC, mas nenhuma referência menciona esta marca como ligada aos Cohen, nem a Dougherty.

Em 1º de janeiro de 1867,A. O. Russell, Robert J. Morgan, James M. Armstrong e John F. Robinson Jr. adquirem o parque gráfico de Enquirer, com a razão social de Russell, Morgan & Co.Em 28 de junho de 1881inicia-se a produção de baralhos. Como curiosidade conta-se que Morgan ao mostrar este primeiro baralho a Russell teria comentado que custou US$ 35,000 (atualizado, este valor superaria hoje o milhão de dólares!), valor do investimento no projeto.A empresa passa a se chamar United States Printing Co., em 1891. Com sua incorporação, US Printing Co. passa a adquirir vários fabricantes de pequeno e grande porte.

A principal consolidação deste fabricante se dá em 1894, quando é formada a The United States Playing Card Co.(USPC). A incorporaçãoé feita através de aquisições de ações e participações da The New York Consolidated Card Co.(NYCC, de New York), da Perfection Playing Card Co.(New York), além das já incorporadas National,Standarde da própria US Printing Co.. Com essa formação, USPC passou a ser o maior fabricante ameri­cano, tendo como principal concorrente A. Dougherty, que viria posteriormente também a ser comprado(em 1907). Apesar das incorporações as empresas mantiveram suas razões sociais, marcas e fábricas operando independentemente, sendo gradualmente desativadas. Ao final a produção se concentrou em Cincinnati e as citações das razões sociais originais foram desaparecendo. Al­gumas marcas (como Bee, Bicycle e Tally-Ho), originadas por empresas incorpo­radas, permanecem até hoje como marcas famosas da USPC. Atualmente, a fábrica americana da USPC está em Erlanger, no estado de Kentucky, mas a poucos quilômetros da cidade de Cincinnati, que fica no estado de Ohio.

Pela popularidade que têm, especialmente no meio mágico, vejam as origens dessas três marcas icônicas:

  • Bee #92 - Foi introduzida em 1895 por NYCC. O ás de espadas e curingas praticamente não sofreram modificações desde sua criação. É atualmente a marca de maior preço comercializada por USPC. Vários cassinos, em todo o mundo, adotam essa marca como pa­drão.
  • Bicycle #808 - Considerada como uma das marcas mais conheci­das no mundo foi introduzida em 1885 por Russel & Morgan. Foi produzida com diferentes tipos de dorso. Conhece-se, originalmente 81 dorsos diferen­tes ao longo dos anos de sua fabricação, apresentados em um manual escrito por Mrs. Joe Robinson em 1955. É a marca mais vendida por USPC na atualidade. Além do tradicional #808, com cartas na proporção de poker, também é produzida em dimensões de bridge, em cartas miniatura ou gigantes, eventualmente com outros números de série.Vários editores de baralhos atuais usam a marca Bicycle em várias versões, com uma enorme variedade de figuras, ases de espadas, curingas e dorsos diferentes, que já devem atingir perto de um milhar. Seu dorso Rider Back é o padrão usado para mágicas, em todo o mundo.
  • Tally-Ho - Foi a principal marca produzida por Dougherty, intro­duzida em 1890. Seu ás de espadas, curinga e dorsos são mantidos com as características criadas em 1895, com muito poucas alterações; no ás de espadas atual ainda é indicada a ra­zão social do criador original da marca, embora este tenha sido comprado por USPC em 1907.

CLÁUDIO DÉCOURT (RUBERDEC) - OUTUBRO DE 2018

[i]As principais referências sobre o tema são:
 DAWSON, Tom & Judy.  The Hochman Encyclopedia of American Playing Cards.   Stamford, U. S. Games Systems, 2000. 324 p.e
 KELLER, William B.  A Catalogue of the Cary Collection of Playing Cards in the Yale University Library.  New Haven, Yale University Library, 1981. 4 v.

 

 

hudson theory11 USPCC

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comentários


  • Claudio, consegui ver o catalogo da Yale. Mas quase não tem imagens…. gostaria de ver as imagens de cartas antigas. Pode indicar outro catalogo que seja ilustrado? Outra pergunta, temos algum baralho produzido no Brasil? Onde/quem? Obg!

    Maria Madalena em
  • Excelente artigo! Muito obrigado por compartilhar a história da Industria do Baralho Americana! Estou começando a colecionar baralhos e cada dia mais me apaixono pelo tema.

    Mauricio em
  • Congratulações pelo texto. Bem escrito e com informações preciosas. Saudações!

    Mayrant Gallo em

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